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14/06/2023

FORMAÇÃO

Educação, fome e espiritualidade pautaram a palestra de Frei Betto em Caxias

A passagem de Frei Betto por Caxias do Sul, por pouco mais de 24 horas, promoveu uma série de repercussões, não só locais como nacionais

Na noite fria e chuvosa de 13 de junho, centenas de pessoas saíram de suas casas e se dirigiram ao UCS Teatro para participar de palestra com o frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto.

Com o tema As fomes do Brasil e as esperanças de futuro, o evento foi promovido pelo Fórum das Entidades e Movimentos Sociais composto por dezenas de organizações de Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves e Ipê, entre eles o Sintep/Serra-RS. O objetivo do Fórum é trazer palestrantes para debater temas nacionais e promover reflexões.

Filósofo, teólogo e jornalista, Frei Betto esteve ao lado do presidente Lula em seu primeiro mandato, quando ajudou na implementação do Fome Zero. E foi a fome, como ápice da desigualdade social no Brasil, o centro da sua fala. Abordou, ainda, a questão da fé e do amor ao próximo, que, segundo ele, deveriam ser os pilares de vida daqueles que creem em Cristo.

O frade dominicano, filósofo, teólogo, jornalista e autor de 73 livros discorreu sobre os retrocessos que o Brasil sofreu nos últimos anos, em especial a volta do país para o mapa da fome. Realista em suas análises, apontou que as mudanças exigem uma grande mobilização popular para se contrapor às definições de um congresso conservador e de um banco central com política voltada para benefício das elites brasileiras e não para as necessidades da população.

Estudioso sobre a vida de Jesus, Frei Betto observa que não há nos Evangelhos a separação, na prática de Jesus, entre sua atividade pastoral e sua atividade social. “Jesus não fazia essa distinção, até porque a única maneira de um cristão amar e servir a Deus é amando e servindo ao próximo. Não há outra maneira. Ou seja, aquele que acha que ama a Deus e não ama o próximo, mente. A prática do amor é o que nos salva. Tem muita gente que diz crer em Deus, mas não ama. Como você crê e não vive o conteúdo da sua fé?”

O teólogo lembra algumas passagens bíblicas, em especial o Evangelho de Marcos, onde Jesus ensina a partilha. E é assim que entende ser possível resolver o problema da fome. “Segundo a ONU, seriam necessários 500 bilhões de dólares para acabar com a fome em todo o mundo. Só os Estados Unidos irão gastar, neste ano, 700 bilhões de dólares em armamento bélico”.

Frei Betto ainda diz que não há, tampouco, escassez de alimentos. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) o planeta tem 8 bilhões de habitantes e 1 bilhão de pessoas passam fome diariamente. No entanto são produzidos alimentos para suprir a necessidade de 12 bilhões de pessoas. “Não falta comida. Falta justiça social”, conclui.

Observação: O evento estava inicialmente programado para o Colégio São José, mas foi cancelado pela instituição e transferido pelos organizadores para a Universidade de Caxias do Sul (UCS). Frei Betto agradeceu publicamente ao reitor UCS, Gelson Rech, pela acolhida de sua palestra.